quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A melhor poesia de todos os tempos de hoje


Muito difícil escolher só uma do Drummond. Pego a Poesia Completa dele, vou lendo e não dá vontade de parar. Se pudesse, colocava o livro inteiro aqui.

Sigo relendo, saboreando, e me lembro de como eu degustava Drummond, quando tinha meus vinte anos. Só percebo agora o quanto ele influenciou tudo o que escrevi e ainda escrevo - não só meus poemas, mas meu jeito de escolher palavras, antes disso, de pensar o que pretendo escrever.

Pra mim, ele é um grande mestre. Uma dessas pessoas que conseguem pegar o mundo e traduzir em palavras. A gente lê e enxerga o que está lendo. Uma das melhores sensações que existem.

Então vá lá. Já que é pra escolher um, será logo o primeiro do livro. Um clássico, que veio ao mundo no livro Alguma Poesia, de 1930, o primeiro escrito pelo Drummond.

Alguém que começa sua carreira poética com esse poema não é brincadeira, né não?


Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário