domingo, 6 de setembro de 2009

O porquê do título

Fruto de meus 19 anos, mais ou menos. Homenagem aos poetas que mais admirava naquela época. Gente como Drummond, Pessoa, Cecília Meireles...


CORAÇÃO NA PRAIA

I

Do desejo embebido no tédio
construo um Ideal sem amargura
nem realização.

Arranco à Peste meus disfarces,
e passeio despojado em meio à turba.

Sozinho como se soubesse que ninguém retornou.

Faço extinto o prazer - quero estar só -
e num momento retomo a realidade
com certa satisfação.

Saio de um torpor matutino
e reconheço que nem isso importa,
já que estou com pressa e me esperam na repartição.

Consciente como se tivesse perdido uma batalha.

Não reclamo, não me escondo,
trabalho secretamente meu Ideal,
barco à deriva, volúpia explodindo,
cabelo ao vento e coração na praia.

Perdido como se soubesse aonde vou.

II

Atravesso o dia em passos retos
e estreito a distância entre o desgosto e a noite.

Perambulo ébrio na espiral do degredo
e me perco, me exponho,
visto meu disfarce noturno,
menos mito mais véu,
e coleciono Deuses em rituais profanos.

Ferido como se amasse a navalha que cortou.

Fel ou felicidade,
desespero ou consonância...
Não importa.

Sou poeta mas não finjo,
perdi o destino mas sigo um Ideal.

E baixados os panos, finda a peça,
vou tomar um porre,
depois inauguro outro Teatro
e não falto aos ensaios.

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