domingo, 13 de setembro de 2009

Tomando refúgio

Conheci o budismo quando tinha uns 20 anos. Eu era um leitor voraz - hoje consigo menos tempo, mas ainda leio muito - e resolvi conhecer um pouco da obra do alemão Hermann Hesse. Li primeiro O lobo da estepe, um de meus livros prediletos. Depois li Siddharta e Minha vida. E é aí que começa o assunto deste texto.

Hesse passou parte de sua vida na Índia, onde tomou contato com o budismo e o bramanismo. Não encontrou as respostas que procurava, mas gostou do que viu. Em Siddharta, ele faz uma narrativa ficcional em que conta parte da vida do Buda histórico, o príncipe Sidarta Gautama, que abdicou de sua vida abastada quando conheceu o sofrimento humano. Ele meditou até atingir a iluminação. Seu ensinamentos deram início às tradições e escolas budistas. Em Minha vida, ele conta suas experiências relacionadas às religiões orientais.

Esses livros despertaram em mim uma simpatia pelo budismo, um desejo de conhecê-lo. Mas eu era bem jovem e segui outros rumos.

Tempos depois, cerca de quatro anos atrás, fiz uma amizade muito bela e sincera com uma colega de trabalho, a Carline, que enveredava pelos ensinamentos do budismo. Conversamos muitas vezes sobre isso, e em diversas ocasiões estive prestes a ir ao local onde ela realizava suas práticas, um centro budista na cidade de São Paulo. Acabei não indo, mas foi ela quem plantou a sementinha em mim, e a ela eu devo essa minha iniciação no caminho.

Quando veio a mudança para Botucatu, no fim do ano passado, eu tive a certeza de que não levaria isso à frente. Eu iria morar em um bairro com grande influência da antroposofia, uma belíssima ciência espiritual desenvolvida pelo austríaco Rudolf Steiner... Buscando uma vida mais digna, mais condizente com meus valores e meu espírito. Enfim...

Aí veio a surpresa. Não é que, poucos meses depois de me mudar, recebo um email de um grupo de estudos budistas? Um centro da escola Karma Kagyu - uma das mais tradicionais escolas budistas - sediado justamente em Botucatu!

É o único centro Kagyu em uma cidade de interior em todo o Brasil. Coincidência? Sei não...

Agora, estou frequentando os encontros, meditando com esse pessoal e lendo muito sobre budismo. Comecei, também, a Prática do Pequeno Refúgio, uma espécie de iniciação para testar e fortalecer minha vontade de praticar em minha vida os ensinamentos da escola. No Pequeno Refúgio, afirmo para mim que desejo tomar refúgio no Lama, em Buda, no Dharma e nos Bodhisattvas.

Tomar refúgio significa "despositar suas esperanças e expectativas", é como reafirmar que você acredita naquele caminho para sua vida. O Lama, no caso dessa prática, nessa escola budista, é o XVII Karmapa - ou seja, o Lama que era a décima sétima encarnação do primeiro Karmapa, que foi o primeiro lama tibetano a reencarnar conscientemente. Buda é o Buda histórico, Sidarta Gautama. O Dharma é o conjunto de ensinamentos budistas. Os Bodhisattvas são nossos amigos no caminho, aqueles que já alcançaram certo desenvolvimento e nos ajudam em nossa trajetória.

Na Prática do Pequeno Refúgio, repetimos diversas vezes, em voz alta, nosso desejo de tomar refúgio no Lama, em Buda, no Dharma e nos Bodhisattvas, por bastante tempo. É incrível, eu sinto muuuuuuito calor durante a prática. Parece que meu corpo se aquece imensamente, começo a suar em bicas e, no momento em que a prática termina, esse calor cessa. Realmente impressionante, uma energia bem forte.

Esse começo de caminhada no budismo tem sido muito agradável e muito desafiador, também, pois reforça em mim o desejo de rever algumas posturas e hábitos dos quais eu já queria me livrar há tempos. Ao mesmo tempo, por não ostentar dogmas punitivos e hierarquias ditatoriais, sabe muito bem a um cara como eu, que sempre se inclinou mais à esquerda e à desobediência civil, apesar de minha completa inabilidade para enfrentamentos e minha tendência natural para a diplomacia, para o apaziguamento dos ânimos. Talvez seja um caminho para praticar a liberdade associada à compaixão - ou seja, uma esquerda sem ditadura.

Veremos. Por hora, tem sido muito gratificante.

Namastê!

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